Manifesto de artista autoproclamado

O manifesto é parte da pesquisa do artista sobre pós-verdade e apropriação presente nos dias atuais, lançado oficialmente em 2021, integrado à exposição “Pós-Verdade – Fragmentos de fatos à revelia”.

Manifesto de artista autoproclamado

Raphael Ferreira

Salve-se quem quiser
defenda-se como puder
terra arrasada, fumaça no ar
independência ou arte
me declaro o que estou,
sempre ao sabor da vontade,
hoje artista,
amanhã estandarte,
standard,
isso é tão d’arte…


“O consumo espetacular que conserva a antiga cultura congelada, compreendendo nela a repetição recuperada das suas manifestações negativas, torna-se abertamente no seu setor cultural o que ele implicitamente é na sua totalidade: a comunicação do incomunicável.”
(Guy Debord)

“O engraçado é que o capitalismo, que é uma máquina de esvaziar subjetividades e humilhar e submeter corpos, conseguiu chegar ao seu ápice deixando a todos contentes por acreditarem que são donos de si mesmos”
(Márcia Tiburi)

“não se poderia reduzir o capitalismo artista ao sistema do mercado da arte”
(Gilles Lipovetsky e Jean Serroy)

“O discurso anti eclético tornou-se , portanto um discurso de adesão, o desejo de uma cultura marcada com balizas bem claras, que deixam todas as suas produções bem organizadas, claramente identificáveis sob tal ou qual rótulo, sinal de ligação com uma visão estereotipada da cultura.”
(Nicolas Bourriaud)

“A mudança iniciada por volta de 1800 impôs um ritmo à arte, e quanto mais acelerado se tornava este ritmo, tanto mais a moda avançava em todos os domínios.”
(Walter Benjamin)

“A intersemioticidade dos meios de massa coloca-se em agudo contraste com a pureza estética que era típica das “belas artes”
(Lúcia Santaella)

“transformações sociais muitas vezes imperceptíveis causam mudanças na estrutura da recepção que serão mais tarde utilizadas pelas novas formas de arte”
(Walter Benjamin)

“Tudo que era sólido se desmancha no ar”
(Karl Marx e Friedrich Engels)

“Mas, no momento em que o critério de autenticidade deixa de aplicar-se a produção artística, toda a função social da arte se transforma…passa a fundar-se em outra práxis: a política.”
(Walter Benjamin)

“Arte e política são a mesma coisa”
(Joseph Beuys)

“Na guerrilha artística porém, todos são guerrilheiros e tomam iniciativas”
(Frederico Moraes)

“Sempre fiz o que quis, como quis, onde quis, quando quis. Arte não foi feita para pedir permissão a nada”
(Paulo Bruscky )

“Meu amigo, você crê o que deseja…”
(RUGE)

“O Estado sou eu!”
(LUÍS XIV )

“A autoconfiança é crucial.”
(Will Gompertz )

“tudo que era sagrado é profanado”
(Karl Marx e Friedrich Engels)

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.
(Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 18)

“Vocês precisam acreditar em mim, eu sou astrólogo”
(Raul Seixas)

“Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval”
(Oswald de Andrade)

“Carnaval a gente vira realeza e fica tudo beleza”
(Raphael Ferreira, 2017)

“Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça!”
(Dom João VI)

“só me interessa o que não é meu”
(Oswald de Andrade)

“O que importa neste mito é o fato de que os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios.”
(Marshall MCLuhann)

É no exercício desse estranhamento que pretendo problematizar
(Celina LAGE, 2017)

“É preciso traduzir recriando e transpor traduzindo.”
(Pablo GOBIRA)


“Não acredite nunca no que diz um artista, veja, antes o que ele faz.”
(David Hockney)

“O artista é um mentiroso profissional”
(Oscar Wilde)

Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
(Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 11)


Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor. (Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 27)

“A arte não me interessa, apenas os artistas”
(Marcel Duchamp)

“o mundo tem que estar pronto para certas coisas”
(Arthur Danto, 2006)

“estamos diante de um mundo múltiplo que caminha para a construção de múltiplas possibilidades de se reconstituir a realidade”
(GOBIRA, SILVA, MOZELLI)

“O estranho é evitado porque corporifica sempre a ameaça de aniquilação.”
(Berger e Luckman)

Artista autoproclamado acima de tudo, jamais acima de todos, portanto sempre ao lado. Alado!

“E sou um pássaro que vivo avoando.”
(Moraes Moreira)

“Ninguém corta a minha onda eu vou falando o que quiser”
(Marcelo D2 )

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras
(Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 19)

“a arte é um exercício experimental da liberdade”
(Mário Pedrosa)

“está na capacidade do artista declarar se isto é ou não uma obra de arte.”
(Hélio Oiticica)

Artista é o que eu e você chamamos artista.

“o artista está presente”
(Mimo Stein)

“Toda pessoa razoavelmente atenta em nossos dias está alerta ao óbvio fato de que a arte já não pode mais ser considerada como uma atividade superior“
(Guy Debord e Gil Woman)

“a humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma”
(Walter BENJAMIN)

“Somos todos artistas”
(Will Gompertz)

“porque a vida não basta”
(Ferreira Gullar)

Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.
(Declaração Universal de Direitos Humanos, artigo 27)

Contudo, portanto, todavia é notório saber, não só da criação bem como da hibridização.

Só pra ilustrar, acima de tudo, artista autoproclamado!


Referências

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BENJAMIN, Walter; A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica,1955. Disponível em https://philarchive.org/archive/DIATAT, acesso em 10/09/2020

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BOURRIAUD, Nicolas, Pós-produção como a arte reprograma o mundo contemporâneo/ Nicolas Bourriaud tradução Denise Bottmann – São Paulo – Martins, 2009.

BRUSCKY. Paulo. Disponível em
https://www.select.art.br/paulo-bruscky-o-artista-que-escreve/. Acesso em 06/10/2020

D2, Marcelo. Fourtrack. Disponível em https://www.letras.mus.br/planet-hemp/73111/. Acesso em 06/10/2020

DANTO, Arthur. O mundo da arte. Trad. Rodrigo Duarte. Artefilosofia, Ouro Preto, n.1, p.13-25, jul. 2006. Disponível em https://periodicos.ufop.br:8082/pp/index.php/raf/article/view/791, acesso em 14/09/2020

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1967.

DEBORD, Guy; WOLMAN, Gil; Métodos de Détournement. Les Lévres Nues #8. 1956

FERREIRA, Raphael. Seguro Desespero. Disponível em https://www.letras.mus.br/raphael-ferreira/seguro-desespero/. Acesso em 06/10/2020

GOBIRA, Pablo; SILVA, Adeilson William da; MOZELLI, Antônio. Realidade e separação: ações artísticas para desfocar o real. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS, 28, Origens, 2019, Cidade de Goiás. Anais […] Goiânia:Universidade Federal de Goiás, 2019. p. 1551-1566

GOBIRA, Pablo; A Sociedade do Espetáculo e intersemiose. XII Congresso Internacional da ABRALIC, Curitiba, 2011.

GOMPERTZ, Will. Pense como um artista: … E tenha uma vida mais criativa e produtiva

LAGE, Celina. Para ver a odisseia – entre a literatura, as artes plásticas e o cinema. Ed. UEMG, 2017.

LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; O manifesto Comunista. Ed. Ridendo Castigat Mores. 1848.

MORAES, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos de arte. 801 definições sobre arte e o sistema da arte. Record. Rio de Janeiro, 2002.

MOREIRA, Moraes. Preta, pretinha. Disponível em https://www.letras.mus.br/os-novos-baianos/122200/. Acesso em 06/10/2020.

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